quarta-feira, 23 de junho de 2010

7º Desafrio Urubici - Correndo pelo "Shangri-La" brasileiro

Sinceramente quando fiz minha inscrição para correr e fotografar os 52 km do Desafrio Urubici, pensei "acabei literalmente de entrar numa fria", primeiro porque por não estava acostumado a correr em temperaturas próximas do "zero" grau Celsius (temperatura média do ponto mais alto da prova) e segundo porque tinha completado a difícil K42 de Bombinhas apenas 28 dias antes, mas o vídeo promocional da corrida exibindo as belíssimas paisagens do lugar me motivaram a correr, fotografar e completar esta prova que foi minha terceira ultramaratona e posso dizer que valeu muito a pena.

A cidade

O município de Urubici esta localizado no extremo leste da Serra Catarinense e a cerca de 160 km a oeste de Florianópolis.
Urubici tem uma pequena população que não chega aos 11.000 habitantes e uma grande área de 1.019 km², mais que o dobro da área de Porto Alegre (496,8 km2), o que possibilitou uma economia baseada na agricultura, pecuária, apicultura e horticultura (é a maior produtora de hortaliças de Santa Catarina) e ainda possui uma grande área de mata nativa preservada com muitas montanhas, cânions, araucárias, rios, cachoeiras e cascatas.
O centro da cidade esta a uma altitude de 915 metros e o ponto mais alto do município e também do estado é o Morro da Igreja com 1827 metros, isso faz com que Urubici tenha uma das temperaturas mais baixas do Brasil, lá durante o inverno, neva quase todos os anos.

A corrida

A entrega do kit aconteceu na sexta, dia 18 de junho, o destaque do kit ficou por conta da inteligente iniciativa ecológica do organizador Carlos Duarte em usar sacolas de papelão no lugar das de plástico, um bom exemplo que os outros organizadores deveriam seguir, dentro da sacola tinha uma bela camisa de manga longa para correr no frio e uma especie de cachecol esportivo que se adapta de várias maneiras entre o pescoço e toda cabeça, era obrigatório levar manta termica feito de poliéster alumizado que era vendido lá por R$15,00.
A prova ocorreu no sábado, dia 19 de junho, com largada as 7:35 horas no centro da cidade, segundo a lista oficial se inscreveram 162 atletas na categoria individual e 81 duplas, totalizando um recorde de 324 atletas.

Pelos trajes que a maioria dos atletas vestiam a previsão era de neve, parecia que todos os corredores estavam vestidos de esquiadores (incluindo eu), alguns corredores seguiram a linha "Tarzã" e encararam o Desafrio de camisa regata e de calção bem curto.




Pela primeira vez o Desafrio sofreu uma modificação na distância e passou dos 50 km para os 52km, o motivo foi a mudança do local da largada/chegada que era no ginásio de esportes e passou a ser em frente ao hotel oficial da prova que se chama Urubici Park Hotel, local onde ficou hospedado uma boa parte dos participantes, aproveito aqui para fazer uma importante observação, dizem que este hotel é o unico localizado no centro de Urubici, o resto são pousadas, pois bem percebi que os atletas da região sul principalmente gaúchos e catarinenses preferiam as pousadas que apesar de não ser tão luxuosas eram também aconchegantes, fazendo-nos sentir em casa, eu mesmo fiquei hospedado numa pousada alternativa oferecida pela secretaria de turismo da cidade e que tinha mais de 4 quartos vazios, tinha até um belo fogão a lenha, por ser a terra do turismo rural também pode-se ficar hospedado nos vários hotéis fazenda espalhados pela cidade.
Começamos a correr por asfalto totalmente plano por cerca de uns 2 km, depois mais 1 km de paralelepidedo até finalmente chegar nas estradas de terra batida que estavam macias para a alegria dos joelhos, devido a grande humidade do local, foram cerca de 7 km tranquilos onde tivemos os primeiros contatos com a exuberante natureza local, teve até cavalo correndo solto ao lado dos atletas, uma das inusitadas cenas que tive a oportunidade fotografar.

Quando cheguei no trecho de passar a pinguela, dei sorte por não ter corrido tão rápido, pois minutos antes ela tinha arrebentado devido a grande quantidade de corredores querendo passar de uma vez, sorte que ninguém se machucou, devido ao imprevisto a grande maioria dos corredores teve que cruzar a pé o riacho que não era fundo, pois molhava só até a altura do joelho, porém a correnteza tinha força para desiquilibrar qualquer atleta e as várias pedras escorregadias aumetavam o risco de quedas, para mim foi o trecho mais difícil da prova, pois corria o grande risco de ter meu equipamento fotográfico totalmente danificado, depois de atravessar o riacho registrei por fotos a dificuldade de alguns atletas nessa parte da prova, destacando-se a travessia da grande ultramaratonista Maria das Graças Bittencourt Bernardino da cidade de Serra (ES), 62 anos, que conquistou o primeiro lugar na sua categoria de idade com o tempo de 06:55:49.

Por volta do km 11 começaram as trilhas com aclive acentuado e com muito barro, dessa vez vim bem preparado pois tinha comprado um par de tênis Salomon próprio para trilhas, a própria trilha tinha muitos pontos de apoio como pedras, raizes e grama que servem como degraus, logo depois tivemos que passar ao lado de um curral, tinham fechado as porteiras e tivemos que ser forçados a pisar no que pensei que fosse lama mas segundo "especialistas de plantão" era o mais puro esterco, se soubesse vinha correr de galocha, a sorte foi que logo em seguida tinha uma lagoa para lavar os tênis, como sempre depois da tempestade vem a bonança e me deparei com uma das mais bonitas paisagens da região, a Cachoeira Véu de Noiva, aproveitei para lavar meus tênis e claro bater mais algumas fotos.




Chegando no posto do km 17 tivemos a disposição água, isotônicos, refrigerantes, frutas, pães e até sopa quente, é nesse ponto que começa o trecho de asfalto com longas subidas que lembram a Comrades, mas com paisagens mais bonitas.


81 atletas foram levados de carro até a metade do percurso no Morro da Igreja, fato esse que pode limitar a partipação de duplas nessa prova devido aos riscos de atropelamento dos atletas e também dos animais silvestres da região, pois os carros sobem e descem pela mesma estrada de asfalto que os corredores passam, em compensação o Desafrio tem uma vocação para um grande crescimento na participação de corredores na categoria solo, como no caso do conhecido ultramaratonista e treinador Heroi Fung (foto abaixo) da cidade de São Paulo, 62 anos e que completou os 52 km em 06:07:45 conquistando o primeiro lugar em sua categoria de idade.



Por volta do km 21 já dava para ver a torre do CINDACTA que é uma antena de controle do tráfego aéreo, ela esta localizada dentro de uma base militar da Força Aérea Brasileira (FAB) no topo do Morro da Igreja (1827m).




Outro fato curioso foi ter visto um pequeno cachorro ter acompanhado os corredores até o km 26, dizem que ele começou a correr do km 5, mas eu não vi, só sei que pedi para um motorista que estava descendo para levar ele para baixo novamente, pois a noite ele iria morrer de frio e de fome pois não tinha residências na região, esta foi minha boa ação do dia, já o corredor com caimbra eu falei de bricadeira que não precisava levar, pois estava 2 km na minha frente e eu queria alcança-lo, feito que consegui no por volta do km 38.


Ufa! até que enfim, tinha chegado no km 27 e no topo do Morro da Igreja, final da subida e onde tinha outro posto de reposição energética desta vez dentro de uma Pick-up a força do vendo impossibilitava a armação de qualquer barraca, segundo informações fornecidas pelo site "tempoagora" a temperatura no momento que cheguei ao topo era de 7°C com sensação termica de 3°C, o suficiente para tremer de frio devido aos fortes ventos, fiquei neste local por longos 20 minutos, fotografando o posto de abastecimento, a base do Cindacta, os corredores que chegavam e a imperdivel visão da Pedra Furada que só podia ser vista andando apenas 5 metros para direita do Morro da Igreja, subir até lá e não ver a Pedra Furada é igual a ir a Roma e não ver o Papa.





Começando a descer tive a surpresa de encontrar o ultramaratonista Paulo Motta ainda subindo, desejei-lhe boa sorte e aumentei meu ritmo para tirar o atraso, o caminho de volta foi quase o mesmo da ida com algumas diferenças nos trechos de trilha, na volta ultrapassei 13 corredores que fotografei no caminho e na chegada, completei a prova no tempo oficial de 8:14:29.










Segundo informações do site oficial da prova o percurso era composto de 22km de asfalto, 27,5 km de estradas de terra batida e 2,5km de trilhas.
O campeão masculino individual foi Claudiomiro Skoreck de Novo Hamburgo (RS) (04:13:30), no segundo lugar Claudio Clasen Schlindwein de Urubici (SC) (04:22:57) e em terceiro Manuel Lago do Rio de Janeiro (RJ) (04:27:21), no feminino individual a campeã foi Débora Aparecida de Simas de Florianópolis (SC) (05:51:29), em segundo lugar Patrícia Valéria Lima de Souza de Belo Horizonte (MG) (06:08:31) e em terceiro Eliana Maria de Lima de Toledo (PR) (06:11:11), para ter acesso aos resultados de todos os participantes e para obter mais informações desse evento entre no site oficial da prova: http://www.ecofloripa.com.br/desafrio/

Há ia me esquecendo, para quem não conhece o termo "Shangri-La", seria um lugar paradisíaco situado nas montanhas do Himalaia, descrito no filme Horizonte Perdido de 1937 que por sua vez foi baseado no livro de mesmo título do escritor inglês James Hilton.

Ligações externas

Fotos do 7º Desafrio Urubici
Site oficial do 7º Desafrio Urubici
Artigo sobre Urubici
Artigo sobre o Morro da Igreja
Reportagem do Fantástico: Sibéria brasileira no sul do Brasil
Artigo sobre Shangri-La
Meu endereço do Twitter